O Projeto Fotográfico intitulado “Os Medos dos Esquecidos” busca retratar, por meio da linguagem verbal e não-verbal, os diversos medos enfrentados por pessoas em situação de rua, um grupo extremamente ignorado e marginalizado em nossa sociedade. E por se tratar de uma temática inquietante e de um segmento social excluído fez-se a opção por fotografias em preto e branco.

A cidade do Recife conta atualmente com dois Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP Glória, em Santo Amaro; e Centro POP Neuza Gomes, no Torreão). Os Centros POPs têm o objetivo de “assegurar atendimento e atividades direcionadas ao desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a reconstrução de novos projetos de vida” - site da Prefeitura do Recife.
O que acontece, de fato, é que esses centros se tornam um espaço de lazer, no qual as pessoas, em situação de rua, utilizam para assistir TV, jogar dominó, conversar e até dormir. Vale ressaltar que ambos os centros funcionam das 8h às 17h, depois desse horário, essas pessoas não têm para onde ir. O município esconde durante o dia, o que a população em geral não quer ver. É imediata a necessidade de criação de abrigos noturnos, para que seres humanos (seres humanos!!!) tenham acesso a algo tão primário. A prefeitura alega que não há dinheiro e essas pessoas seguem sofrendo o medo da insegurança noturna. Recentemente tivemos as eleições para prefeito e nenhum dos candidatos, sequer, mencionou projetos voltados para esse público esquecido e, portanto, sem voz.

“Os Medos dos Esquecidos” tem como outra finalidade dar visibilidade a pessoas que, a princípio, parecem tão distantes a nós, seja por sua condição subumana, seja por sua condição de risco. O contato mais direto com essas histórias de vida, leva-nos a quebrar alguns paradigmas instaurados em torno das pessoas em situação de rua. Ouvindo-os, percebemos que eles não são tão distantes de nós, como (talvez) imaginássemos. As fotografias e as entrevistas foram realizadas no Centro POP Glória, localizado no bairro de Santo Amaro. Confiram.


 Nosso primeiro personagem é o Sancler Towara Tsorote, de 28 anos. O nome e o sobrenome atípicos advém do Aquém ou Akwém, uma língua falada pelos Xavantes, povos indígenas que habitam o Centro-Oeste do Brasil. O jovem indígena nasceu no estado do Mato Grosso e viveu numa reserva indígena com a mãe, padrasto e dois irmãos até os 7 anos de idade.

 Há uma tradição muito comum, em algumas tribos indígenas brasileiras, que é a prática do infanticídio em crianças com deficiência física ou mental, uma questão extremamente delicada que perpassa os limites do respeito cultural e dos Direitos Humanos. Sancler nasceu com uma deficiência na mão esquerda, mas, felizmente, não foi morto. Em contrapartida, havia uma pressão, entre vários membros da tribo, sobre a família Towara Tsorote para que largassem Sancler, à própria sorte, nas matas mato-grossenses.

 A não-aceitação e o cerceamento constante desses Xavantes sobre os Towara Tsorote  levaram-nos ao Rio de Janeiro, estado onde Sancler viveu com sua família até a idade adulta. Além das terras fluminenses, ele passou pelo Distrito Federal, mais especificamente, em Ceilândia. Recém-chegado ao Recife, o indígena conta da dificuldade inicial de se encontrar locais que acolhem pessoas em situação de rua: “Deveria existir assistência social dentro das rodoviárias, demorei pra encontrar aqui [Centro POP Glória], não tem informação”.

 No decorrer da entrevista, Sancler fez uma revelação surpreendente: o indígena é presidente de uma ONG, a Federação dos Escudos Indígenas do Brasil, que faz a defesa pública dos Direitos Humanos das pessoas, comunidades e povos indígenas portadores de deficiência ou sobreviventes das práticas de infanticídio. A Federação dos Escudos Indígenas do Brasil atua em todo o Brasil e subsiste por meio de doações.

 Sancler é uma alma andarilha, viaja todo o Brasil com quase nada no bolso, mas com muita vontade de socorrer seus semelhantes espalhados por todo o país. Vive somente da solidariedade, vive para ajudar pessoas a garantirem o direito mais nobre e básico, o direito à vida.

 Obs.: Para ajudar a Federação dos Escudos Indígenas do Brasil faça uma doação de qualquer valor no Banco Itaú, Agência 4357, Conta Corrente 18659-4. Para mais informações, falar diretamente com o Sancler Towara Tsorote no telefone: (62) 8244-8190.


Esqueça toda e qualquer imagem clichê que se cria a respeito de uma pessoa em situação de rua, Francis José Ventania, de 49 anos, é uma grande quebra de simulacro em todos os aspectos. Natural do Paraná, Francis, assim como tantos brasileiros, é uma vítima do desemprego. Durante o tempo em que viveu no Paraná, ele casou com uma mulher, cujo único filho - de outro casamento - era deficiente. A família vivia bem com o salário do Francis e da aposentadoria da criança com deficiência. 

Contudo, devido a um corte de funcionários, Francis ficou desempregado e as dificuldades financeiras começaram a surgir, a aposentadoria da criança já não era suficiente para os três. Com isso, o nosso personagem foi posto pra fora de casa. Sem família e sem dinheiro, Francis foi em busca de um rumo para sua vida e nessa trajetória passou pelos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Pará e Rio de Janeiro.

Seu sobrenome, “Ventania”, é um bom indicativo de sua essência: itinerante e forte. Francis é um homem que conhece boa parte do Brasil e neste ínterim (de aproximadamente 14 anos), até sua chegada a Pernambuco, ele trabalhou em hotéis, pousadas e restaurantes. Essas experiências propiciaram a ele a fluência em espanhol e inglês.

 Há três anos em Pernambuco, Francis conta que trabalhou em hotéis em Porto de Galinhas e que, por mais uma vez, o desemprego bateu à sua porta, desta vez, os resultados foram mais radicais e o levou às ruas. Vive há 6 meses em situação de rua, um tempo bem considerável para quem nunca viveu numa.

Felizmente, o senhor Ventania conseguiu um emprego de vigilante noturno há 3 semanas, sendo assim, ele passa o período do dia no Centro POP Glória e o período da noite no atual emprego. Francis encerra a entrevista deixando-nos boas-novas: em breve, irá alugar uma casa para morar. Boa sorte, Francis! <3
         

O mais jovem dos entrevistados, Wagner da Silva Ramos, de 22 anos, cresceu no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife e, infelizmente, é um retrato de muitos jovens das periferias brasileiras que vão parar nas ruas. De origem humilde, Wagner viveu até os 15 anos de idade com sua mãe, padrasto, avó e três irmãos; nessa idade o jovem teve uma discussão séria com sua família. Na época, Wagner era traficante do bairro, iniciou na vida do crime muito jovem e por essa razão foi posto para fora de casa. Em suas inúmeras tentativas de se reerguer, aos 18 anos, Wagner ingressa na empresa MIC (Montagens Industriais e Civis) e arruma uma companheira, com quem tem um filho, Willian, atualmente com 3 anos de idade.

Lamentavelmente, o vício em drogas o impediu de continuar em seu emprego e, consequentemente, de manter sua família. Pela segunda vez, Wagner é posto de casa para fora. Há três anos nas ruas e há um ano frequentando o Centro POP Glória, o jovem nos conta de seu medo e também de um sonho: terminar o Ensino Médio. Nosso personagem cursou até o 9º ano (8ª série) e acredita que o término do ciclo básico da educação trará boas oportunidades para ele e para seu filho, o seu maior afeto.


A única mulher dos personagens entrevistados é a Tatiane, de 42 anos. Uma pessoa ainda sem consciência de seus direitos de pessoa trans “Você quer saber meu nome de homem ou de mulher?”. Tatiane possui uma vida muita chagada, o nome social, diante de seus infortúnios, parece ser o menor de seus problemas. Tati, como gosta de ser chamada, cresceu no Alto Santa Terezinha com a mãe, padrasto e oito irmãos. Desde jovem sua família percebia seu gosto por maquiagens, esmaltes, dentre outras coisas relacionadas ao universo dito feminino. Sendo assim, a rejeição a ela começou, também, desde cedo. Com apenas 11 anos, Tatiane foi levada ao antigo colégio que abrigava meninos de rua no Recife, lugar onde nossa entrevistada também sofreu, devido a separação de gênero do colégio. Anos mais tarde, Tati foi resgata por seu irmão para viver com ele, contudo, a estadia na casa do parente não durou muito, por conta dos constantes maus tratos do irmão para com ela. Tatiane carrega consigo um homicídio (em legítima defesa) e dois roubos para o consumo de drogas. Sua vida é repleta de episódio obscuros, no entanto, ela contrasta todos esses acontecimentos com as cores vibrantes de suas roupas e maquiagem. Apesar da aparência alegre, receptividade e simpatia, Tati faz um desabafo “As pessoas me dizem que falta emprego e colocam a culpa nos remédios que tomo, mas eu sei que não é isso. Falta emprego, porque eu sou travesti, outros moradores de rua conseguem, eu vejo, mas eu não.”



Considerado por muitos como a “língua mundial”, o inglês tornou-se um idioma essencial no mundo globalizado. E sim, o inglês é a língua mais falada no mundo; como segunda língua, vale ressaltar. Se fôssemos considerar, apenas, os falantes maternos de uma língua, esse posto ficaria com o mandarim.
O inglês tem suas raízes nas línguas germânicas, muitos não sabem, mas o latim (a grande base da nossa língua portuguesa) influenciou fortemente a língua inglesa, não é à toa que muitas palavras do inglês se assemelham às nossas. Como conseguir então adentrar num mar de palavras e expressões de uma língua, cuja maior base linguística é diferente da nossa?
Aprender uma segunda língua requer dedicação e não são duas horas, uma vez por semana, que te fará fluente. É preciso dedicação diária e mesmo quando se alcança um nível satisfatório no idioma não se deve parar de praticar. A aprendizagem de uma língua é ininterrupta. E a internet oferece caminhos eficazes e divertidos para o progresso na língua. Sem mais delongas, vamos às dicas!


APLICATIVO
O Duolingo é, sem dúvidas, o melhor aplicativo para a aprendizagem de línguas. Assemelha-se muito a um jogo, possui estágios a se alcançar (níveis e porcentagem de fluência), metas, recompensas (lingots) e competição, que pode ser feita entre os próprios amigos do facebook. O incrível do Duolingo é que ele trabalha as quatro áreas da aprendizagem de qualquer idioma que é: a leitura (reading), a escrita (writing), a fala (speaking) e a compreensão (listening). Há ainda uma seção intitulada “conversa”, uma espécie de fórum, com questões bem pertinentes a respeito da aprendizagem de línguas, vale conferir e participar.


CANAIS NO YOUTUBE
Esse cara é muito bom! Ele é formado em Letras, é tradutor e professor de inglês e possui uns métodos maravilhosos para a aprendizagem de inglês e de línguas de modo geral. Se você é iniciante e está à procura do “como estudar”, assista aos vídeos dele.
Se você já descobriu o que funciona bem pra você e já está mais tranquilo quanto ao “como estudar” e quer assistir somente a aulas, se inscreva no Inglês de Bolso e assista as aulas dos professores de inglês mais descolados do país: Bianca Urata e Fernando Sprovieri. O canal é organizado em playlists que vão do nível básico ao intermediário. Quem se sente perdido nos estudos de inglês, encontra neste canal um fio condutor divertidíssimo.
Esse é o canal de inglês do americano mais fofo do planeta terra, o Gavin. Ele é a doçura em forma de gente. É óbvio que ele não está na lista só por ser um amorzinho, mas por trazer dicas maravilhosas tanto da língua, quanto da cultura americana. O canal dele é excelente e o conteúdo muito pertinente.
Se o Gavin é a personificação masculina da fofura, a Carina é a feminina. Volto a lembrar que a fofura aqui não é meu critério de avaliação. Carina Fragozo é uma profissional muito competente e possui um lado vlogger que a torna ainda mais interessante.


CHATS
Essa dica é para os estudantes mais tímidos de inglês que querem melhorar a escrita (writing) sem julgamentos humanos. O Eviebot é um chat com uma robozinha muito simpática que se diz homem. Vai saber, né? Expressão de gênero tá aí pra isso. O legal do chat é que ela verbaliza tudo o que escreve e isso auxilia o listening. Por se tratar de uma robô, ela pode, em alguns momentos, dar uma resposta non sense, mas em geral é uma ótima maneira de praticar e expandir o vocabulário.
Muitas meninas que vão a chats estrangeiros para praticar inglês encontram um problema muito recorrente que é o assédio dos gringos, principalmente quando estes descobrem que você é brasileira. É muito desconfortável ter que lidar com esse tipo de coisa. O Gospeaky é um dos poucos chats que “quase” não possui gringos libidinosos. Uma boa tática para atrair pessoas que queiram, somente, praticar inglês é colocar tags de interesse no perfil. Em suma, é um ótimo espaço para um intercâmbio cultural-virtual, é só ficar esperta!


AUDIOBOOKS
Dentre as quatros áreas de aprendizagem de idiomas, há duas que são essenciais em relação às outras, que são: a leitura (reading) e a compreensão (listening). Não quero dizer com isso que a escrita (writing) e a fala (speaking) não são importantes, não é isso! Mas para início de aprendizagem de uma língua estrangeira é sempre bom priorizarmos o input, isto é, tudo aquilo que você recebe. (Para saber mais sobre o tema leia esse artigo do Mairo Vergara aqui). Sendo assim, audiobooks são umas das melhores formas de input. A Deep English oferece textos curtos acompanhados de áudios em velocidade baixa, normal e alta disponíveis para download, é bem verdade que não são “books”, entretanto auxiliam muitíssimo no desenvolvimento do reading e listening dos iniciantes.


MÚSICAS
Outra maneira de aperfeiçoar o reading e o listening é ouvindo música, só que ouvir música traz consigo um plus. Quem ouve música caladinho? Difícil! O speaking também é ativado aqui, é impossível não acompanhar. E com a seção “aprenda” do Vagalume, você pode treinar também o seu writing completando espaços em branco da sua música preferida em quatro níveis: iniciante, intermediário, avançado e expert. M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o!


FILMES/SÉRIES
Netflix é a queridinha quando se trata de comodidade para assistir filmes e séries, podemos unir a vontade de assistir filmes/séries com a necessidade de aprender inglês por meio dela. Na maioria dos filmes/séries há um ícone para mudar o áudio/legenda. A indicação é sempre a mesma: se for iniciante, assista os filmes/séries com áudio em inglês e legenda em português; se for intermediário, assista os filmes/séries com áudio em inglês e legenda em inglês; se já estiver num nível avançado, assista os filmes/séries com áudio em inglês e sem legendas.
Nem tudo é um mar de rosas e com a Netflix não é diferente. Como ela ousa não ter todos os filmes do Harry Potter? Como então treinar meu inglês bruxo-britânico? O Subsmovies é uma alternativa para assistir filmes com áudio em inglês e legendas nas mais diversas línguas. Os filmes que você não encontra na Netflix, com certeza, devem existir por lá. É uma infinidade de títulos.


Após essas dicas prolixas de como melhorar o inglês, gostaria de dizê-los que o estudo contínuo ainda é a melhor forma de se progredir numa língua, de nada adianta fazer inúmeras atividades de inglês de uma só vez e ficar dias sem estar em contato com a língua. É necessária a criação do hábito de estudar inglês DIARIAMENTE. Essas dicas são uma compilação de ferramentas que deram e dão certo pra mim, e nem sempre o que dá certo pra mim, vai ser bom pra você. Reflita sobre o que funciona pra você e bons estudos. See you soon!


O longa Moça com Brinco de Pérola (2003) dirigido pelo britânico Peter Webber é uma adaptação de um livro homônimo (1999) escrito por Tracy Chevalier que busca retratar, de forma fictícia, a história de uma das obras-primas do pintor holandês Johannes Vermeer.
O filme se passa na Holanda do século XVII e conta a história de uma jovem, Griet (Scarlett Johansson), que se vê obrigada a trabalhar como criada na casa de uma família abastada, como forma de suprir as necessidades financeiras de sua humilde família. Ao chegar em seu local de trabalho, Griet é auxiliada por uma outra criada que lhe apresenta o modo de se trabalhar daquela casa. Com o desenvolver do filme, fica explícito, a nós espectadores, a sedimentação social existente nesta época, na qual uma criada não pode dirigir a palavra à patroa sem ser solicitada, ou ainda, a forma ríspida com que os membros da elite holandesa delegava ordens a seus criados.
O contado da moça com seu patrão, o então pintor barroco Johannes Vermeer (Colin Firth), se dá sobretudo no ateliê do artista, localizado no sótão da casa. Por ser uma criada, Griet precisa limpar os diversos cômodos da casa, inclusive o ateliê; são nessas obrigações diárias que vai se firmando, gradativamente, o contanto entre a moça e o artista. Este contanto é envolto de um clima amoroso, entretanto, devido às circunstâncias em que ambos se encontram (Vermeer casado e Griet namorando) nada sucede.   
O pintor se mantém financeiramente, por meio de recursos advindos de patrocinadores da arte; vemos uma estreita relação entre arte e mercantilismo. Em sua mais hodierna encomenda, Vermeer deverá pintar sua récem-chegada criada, a pedido de um mecenas. Em virtude da personalidade ciumenta da esposa do artista, este precisa pintar seu objeto artístico, Griet, em segredo; para isso ambos, modelo e artista, encontram-se sigilosamente para que o trabalho seja executado.
É curioso observar que tanto no livro, quanto no filme a jovem do famoso quadro Moça com Brinco de Pérola (1665) é uma pessoa real, diz-se que a obra-prima de Johannes Vermeer se trata de um tronie, isto é, uma face imaginada, todavia esta informação é contestável, pois muito pouco se sabe sobre Vermeer e suas obras.
No decorrer do trabalho, o artista sente falta de um ponto de luz, que será materializado em forma de brincos de pérolas (conseguido por meio de um “furto” das joias da esposa de Vermeer). Sabemos que a pérola é um material que se forma no interior da ostra quando ela é atingida por alguma substância indesejável, sendo assim, pode-se afirmar que as pérolas são belos produtos da dor, assim como Griet, uma bela moça com uma história de vida árdua e resignada, seja por sua condição de criada, seja por sua condição de mulher. Brinco e modelo se fundem numa perfeita harmonia e se destacam em meio ao fundo escuro da tela, compondo assim, o tão famoso jogo do claro-escuro da estética barroca.
Vale salientar que o Barroco Holandês difere do Barroco dos demais países europeus quanto a temática, neste temos a religião como tema central, naquele o que prevalece são retratos de pessoas em cenas quotidianas e um toque de realismo.
O ritmo do filme é vagaroso e minucioso, um e outro conferem um caráter delicado ao enredo e cooperam na elucidação do porquê da obra de Vermeer transmitir a quietude e o silêncio.
Um acontecimento muito significativo para o andamento do filme é o fato da jovem não ter as orelhas furadas, sucede que o artista para ter seu tão desejado ponto de luz na orelha da moça, fura-a, à pedido da mesma. Este ato pode ser compreendido como uma metáfora da desfloração. A peripécia da obra cinematográfica acontece quando a esposa do artista descobre que sua criada serviu de modelo para seu marido, contudo o ânimo da mulher fica mais alterado, quando esta percebe que a jovem usara seus brincos de pérolas no quadro, temos então uma outra metáfora, desta vez para tratar da traição. Dentro duma linguagem conotativa as pérolas nada mais são que a prova de uma traição. O filme finda quando Griet é despedida da casa, adicionando, por mais uma vez, “dor a sua beleza de pérola”. A beleza não foi agradável a moça, assim como a arte também não é, por muitos momentos.
Uma coisa é certa, e peço licença a você, leitor, para ressignificar a palavra tronie e proferir: Se a célebre obra de Vermeer é considerada por muitos críticos um tronie, o livro/filme também o é. Pois este(s) nada mais é(são) que a criação de uma história imaginada sobre uma Moça com Brinco de Pérola. Obras artísticas homônimas (seja ela visual, literária ou cinematográfica) que valem muito a pena serem apreciadas, devido a toda essa riqueza de linguagens.


Índia. Um país tão exótico a nossos olhos ocidentais! Tudo lá é grandioso, a começar pela quantidade de habitantes, cerca de 1,2 bilhões, a segunda maior população do mundo; sem falar que o Hinduísmo, religião considerada por muitos teólogos como a mais antiga, é seguido por grande parte da população indiana; até as minúcias gestuais das mãos, presentes na dança tradicional indiana, fazem desta manifestação artística um espetáculo imponente.
Poderia passar horas elencando diversos aspectos culturais indianos para tentar mostrar a vocês o quão majestoso é este país, mas o featuring entre Coldplay e Beyoncé conseguiu mostrar isso, de uma forma bem rápida e bonita. Assistam:


Massala é uma palavra associada à mistura de especiarias na culinária indiana, ou ainda, à mistura de gêneros no cinema bollywoodiano. Massala é o que há em Hymn for the weekend, que faz referências a diversos elementos da cultura indiana. Vejamos alguns desses:


RELIGIÃO
Logo nos primeiros segundos do videoclipe nos deparamos com dois homens de vestes laranjas e tridentes, eles são conhecidos como Sadhus, homens que renunciam os bens materiais e que se dedicam a prática do bem e da meditação, considerados santos pelos indianos, devido a sua dedicação integral à espiritualidade. O tridente em suas mãos, revelam que ambos são seguidores do deus Shiva, um dos deuses da trimúrti (trindade) hinduísta.
Falando em Shiva, há um garotinho (ver imagem acima) caracterizado do deus da destruição. Além dele, há outros três artistas caracterizados de Hanuman, o deus-macaco, tido por muitos hindus como uma encarnação de Shiva. Caracterizações como essas são muito frequentes e importantes, pois servem para contar as histórias dos deuses hindus. Essa é só uma pequena mostra de como se configura e se perpetua o Hinduísmo na Índia.


CINEMA
A sétima arte na Índia é muito apreciada e conta com a maior indústria cinematográfica do mundo, Bollywood. Tô dizendo... tudo lá é grandioso! Em Hymn for the weekend, Beyoncé é a grande estrela bollywoodiana. Há cartazes de seu filme espalhados pelas ruas de Mumbai* e avante uma exibição deste mesmo filme, assistida por Chris Martin numa sala de cinema tipicamente indiana.
Dizem que uma boa parcela dos filmes indianos é uma massala, e nesta mistura de gêneros o musical também está presente com direito a muitas dancinhas. A Queen Bey conseguiu assimilar muito bem os movimentos das mãos em seu musical.
Há uma participação especial de uma atriz no videoclipe, a moça das pétalas é, na verdade, Sonam Kapoor, uma atriz da nova geração bollywoodiana, conhecida por sua belíssima atuação em Saawariya. (Assistam esse filme, é sério!).


*A maior e mais importante cidade indiana, onde está localizada Bollywood e onde boa parte do videoclipe foi gravada.


DANÇA
Encontramos uma breve demonstração de duas danças clássicas indianas: o Bharatanatyam e o Kathakali. A primeira é uma junção de yantras (posturas corporais), múdras (gestos simbólicos com as mãos) e abhinaya (expressões faciais); a segunda, o Kathakali, na realidade, é uma combinação de dança e teatro, na qual há a representação de personagens da mitologia hindu, é uma dança exclusivamente masculina. No site da Obvious há um ótimo artigo sobre a dança Kathakali, leiam aqui.


FESTIVIDADE
Não há nada tão colorido quanto o Holi, também pudera, é o festival das cores! Costumo dizer que ele é uma ótima metáfora do que é a Índia, em virtude de suas diversas cores - que reflete bem a multiplicidades das coisas por lá - e de sua alegria. É um dos principais festivais indianos e comemora a chegada da primavera. A festa começa quando crianças atiram pós coloridos (zim) nos adultos, depois é só diversão e guerra de cores.


LUGARES
Uma das inúmeras coisas que me chamou atenção em Hymn for the weekend foi que a direção conseguiu, de forma louvável, mostrar a precariedade da Índia (trânsito caótico, superpopulação, pobreza) de uma forma bonita e sensível. Por incrível que pareça, isso foi possível e se deve muito a fotografia do videoclipe, que está impecável. Em verdade, há tantos elementos deslumbrantes na Índia a serem mostrados, que a precariedade acaba sendo ofuscada com tanta suntuosidade. 
Esta foi uma breve amostra dos elementos culturais indianos presentes no videoclipe do Coldplay e da Beyoncé, cada um deles dá margem a muita conversa e merecem ser pesquisados mais profundamente, afinal, conhecer culturas diferentes é um ótimo meio de valorizar e respeitar a diversidade. Boa pesquisa. Namastê!

             P.S.: Este post teve a contribuição de um amigo indiano, Lav Kumar, que me auxiliou com algumas informações. धन्यवाद!